Por: Renato Zimmermann – Mentor e Consultor em Energias Limpas e Sustentabilidade
O sistema elétrico brasileiro está passando por uma forte transformação. Grande parte deste movimento se deve a criação da geração distribuída no ano de 2012 e impulsionado a partir de 2018. Esta inovação trouxe milhares de novos atores para um setor antes dominado por regras estruturadas, rígidas e construídas com uma visão de longo prazo.
Estes novos entrantes ávidos por crescimento e resultados são pequenos geradores de energia que já alcançam o impressionante número de 3 milhões de micro e mini usinas construídas mais próximo das áreas de consumos da energia e conectadas à rede de distribuição feito pela concessionária local de energia. Junto com estes novos geradores de energia encontramos milhares de empresas desenvolvedoras de projetos e outros milhares de investidores de pequeno porte buscando rentabilizar capital com os novos modelos de negócios que surgem. Cada qual com seu nível de conhecimento e com seu interesse sejam ele apenas financeiro em busca da construção de um empreendimento próspero, ou sejam por um propósito de vida em construir um setor mais sustentável ajudando o planeta no enfrentamento das mudanças climáticas. Ambas as intenções muito nobres e importante para a consolidação do Brasil como uma Nação soberana e democrática.
Todo este movimento gerou uma nova dinâmica. Vale mencionar comentários de pessoas mais antigas que trabalham no setor e comentam que as audiências públicas em Brasília, outrora aconteciam sem nenhum alarde e levavam pouco interesse da mídia e nenhuma audiência para as pautas e os desfechos deliberadas nestas reuniões.
Não é que de repente, as consultas públicas passam a ter centenas de contribuições da sociedade civil? E as audiências públicas começam a lotar salas com o pedido de uso da palavra por vários interlocutores representando entidades ou mesmo empresas e órgãos públicos?
Ocorre que no meio deste turbilhão de informações e fatos, a dinâmica do mercado acaba por atropelar a razão, e a lógica de mercado toma contornos irracionais. O título do artigo faz alusão a um trecho de uma música de Nando Reis que dura 9 minutos e que fala de temas atuais , da polarização das ideias e opiniões e seus efeitos sobre as pessoas. Trazendo a temática musical do “muito movimento, pouco pensamento, sobra opinião” para dentro do setor elétrico, o que chama a atenção é o volume de opiniões sobre os mais diversos temas relativos a regulamentação, legislação e a organização do setor. A balbúrdia, vozearia ou tumulto de ideias trazidos pelas inúmeras opiniões em sua maioria sem fundamentação ou esforço intelectual de entender o que de fato tal movimento significa; acaba por levar a uma falta de resiliência e a uma reação revoltosa de algo que estava fadado a acontecer, mas que devido a tanto barulho ninguém parou para prestar atenção e pensar sobre os motivos, ações e reações.
O mercado elétrico não está livre desta confusão, estamos diante de vários possíveis caminhos. Temos na pauta do setor elétrico uma extensa e uma complexa agenda a ser cumprida que vai deste regulamentações da lei federal que é o marco legal da energia solar, a abertura do mercado livre.
As renovações de concessões, leilões de transmissão, CPIs, tramitação de vários projetos de lei, decretos governamentais, reformas tributárias, análises de impactos regulatórios, tomadas de subsídios e sindicâncias.
Se conseguirmos parar para pensar o que já é muito difícil, respirar fundo, vamos entender que não haverá nenhum setor, nenhum ator que não será impactado nos próximos anos por toda esta transformação. E no final, se o consumidor brasileiro e aqui leia-se a sociedade brasileira for vencedor recebendo energia mais barata e com mais segurança em tempos de eventos climáticos, daí poderemos dizer que todo este barulho valeu a pena e teve um propósito maior. Este é um pouco do meu pensamento e muito da minha opinião.
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